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O PENSAMENTO
O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.
HORA DE TER SAUDADE
Houve aquele tempo...
(E agora, que a chuva chora,
ouve aquele tempo!)
INFÂNCIA
Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se "Agora".
CIGARRA
Diamante. Vidraça.
Arisca, áspera asa risca
o ar. E brilha. E passa.
CONSOLO
A noite chorou
a bolha em que, sobre a folha,
o sol despertou.
CHUVA DE PRIMAVERA
Vê como se atraem
nos fios os pingos frios!
E juntam-se. E caem.
NOTURNO
Na cidade, a lua:
a jóia branca que bóia
na lama da rua.
OS ANDAIMES
Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.
TRISTEZA
Por que estás assim,
violeta? Que borboleta
morreu no jardim?
PESCARIA
Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.
JANEIRO
Jasmineiro em flor.
Ciranda o luar na varanda.
Cheiro de calor.
DE NOITE
Uma árvore nua
aponta o céu. Numa ponta
brota um fruto. A lua?
FRIO
Neblina? ou vidraça
que o quente alento da gente,
que olha a rua, embaça?
FESTA MÓVEL
Nós dois? - Não me lembro.
Quando era que a primavera
caía em setembro?
ROMANCE
E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.
14 de dezembro de 1997 | |||
Guilherme de Almeida |
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