Ao revisar a história do haicai de molde tradicional no Brasil, um nome praticamente esquecido do grande público se destaca pelo pioneirismo e qualidade de sua contribuição. Estudiosos desta forma poética, de extrações tão distintas quanto o Professor Paulo Franchetti e o Mestre H. Masuda Goga recordam-se, o primeiro com admiração, o segundo com saudade, do nome de Jorge Fonseca Jr.
No panorama dos anos 30 e 40, onde se buscava um modo brasileiro de fazer haicai, brilhava a personalidade dândi e romântica de Guilherme de Almeida, muito preocupado com a questão da forma, questão esta resolvida vazando o seu haicai em tercetos de métrica cerrada e esquema precioso de rimas.
Por outro lado, sobressaía-se o caráter "low profile" ("nunca fiz política literária", disse) de Jorge Fonseca Jr., funcionário público e professor de colégio, com uma proposta muito diferente para a nacionalização do "haiku" japonês, muito mais atenta aos aspectos tradicionais daquele tipo de poesia, aprendidos diretamente pela convivência e amizade com praticantes japoneses. Não por acaso, relatos contemporâneos nos falam de rivalidades irreconciliáveis entre os dois poetas, mesmo ao nível pessoal.
Se a escola de Guilherme de Almeida alcançou certa notoriedade, é apenas o trabalho de Jorge Fonseca Jr. que deita as raízes para a apreciação e prática do haicai tradicional em língua portuguesa, nos moldes em que é modernamente exercitado pelo Grêmio Haicai Ipê e por tantos outros poetas brasileiros.
Desde cedo, Jorge Fonseca Jr. teve o privilégio de conviver com destacados intelectuais da comunidade nipo-brasileira, através do Grêmio Cultural Brasileiro-Nipônico, extinto com a eclosão da Segunda Guerra. Desenvolveu assim seu conhecimento e amor pela cultura do Japão, e em especial pelo haicai, do qual se tornou praticante e divulgador, especialmente após a visita que fez àquele país em 1940, onde entrevistou-se com o mestre Kyoshi Takahama.
Foi o primeiro a buscar a popularização, no haicai brasileiro, do conceito de kigo, o termo-de-estação, alma do haicai tradicional, introduzindo em seus haicais temas da natureza brasileira e das atividades humanas que refletissem a época do ano.
Como o português Wenceslau de Moraes, a quem admirava e dedicou um livro, Jorge Fonseca Jr. foi, à sua maneira, um pioneiro no intercâmbio entre duas culturas, dedicando sua vida a celebrar "a possibilidade de os homens se entenderem acima de quaisquer barreiras culturais e lingüísticas", nas palavras do Professor Paulo Franchetti.
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